10 de fev. de 2009

Nobre refeição para o paladar destruído pelo cigarro

Ela foi uma baita diversão.

Enquanto trabalhava em um

belo hotel

5 estrelas,

na rua

considerada a mais cara do país,

eu mantinha um salário

esquálido

na função de telemarketing.


Ela era realmente

bonita.

Morena,

branquinha,

pequena.

Sonhava com um mundo melhor

e se revoltava com as injustiças sociais

enquanto eu

nem queria saber dessas

coisas.


Seu horário de trabalho era

o oposto do meu.

Eu entrava às 8 horas e 25 minutos,

largava às 14 e 45;

ela começava às 15 e terminava às 11.

Todos os dias a buscava na lida.


Era um hotel muito bacana,

minha visão externa via

cadeiras que pareciam nós gigantes

uma limpeza nunca vista

– tudo reluzia no saguão –,

sofás gigantescos,

pessoas de aspecto diferente

– não entendo, mas a cara do rico é diferente –

e os empregados com seus uniformes

elegantes.


Lá dentro havia um restaurante;

um dos melhores do país,

e era lá que ela trabalhava.


Nunca fui muito curioso pra saber

realmente,

o que ela fazia.

Sei que atendia aos ricos

e dizia que seguia severas regras da

alta gastronomia.

Nunca entendi o que era isso.


Ela sempre saía

depois do horário.

Eu ficava na rua

olhando as vitrines de lojas

que nunca entrarei,

cuidando das madames lindíssimas

com um olhar discreto e

desviando das merdas deixadas por cachorros

supostamente

educados.


De repente

vinha sorrindo

com sua saia um pouco abaixo do joelho

e botas cano alto

porém,

curto;

me dava um abraço forte

e um beijo de escandalizar

os crentes.


Aquilo fazia eu sentir

o mesmo poder

daqueles clientes babões

cheios da nota

e ainda comia a mesma comida que eles

pois, ela sempre trazia uma marmita

com duo de foie gras: crostata com compota de beterraba

e creme brulée com gelatina de vinho passito,

filé "lardelatto",

redução de vinho tinto e cogumelos,

purê de batatas com manteiga fresca

e outra

de sobremesa com

fondant de chocolate Java

com sorvete de amêndoas tostadas.


Nós ríamos bastante de tudo aquilo

como se fosse um trabalho

de antropologia

não acadêmico.

E quando ela se foi

eu percebi que a lida antropológica dela

era eu.

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