2 de mar. de 2016

Indignidade com o digno

Quase 4 da madrugada,
assistindo a reprise do jornal,
larguei o copo e atentei-me à notícia da criação de um “robô que atende as ligações de telemarketing por você”.
Assim que a matéria acabou,
busquei o copo e virei todo líquido armazenado.
Cheia de “graça”,
a apresentadora pediu a opinião das (três) comentaristas sobre o trabalho de telemarketing.
“A máquina finge que está interessada na conversa. Demais! Ideal para mim que sou grossa com telemarketing!”,
disse a conhecida defensora do impeachment – que vive nos Estados Unidos.
Caros, em 2006, trabalhei como telemarketing.
Recebia R$ 2,35 por hora.
Tinha a permissão de ir ao banheiro uma vez por dia.
Caso estivesse com caganeira, a Supervisão reclamava que cagava muito e telefonava pouco.
Os gritos ameaçadores da Chefia eram diários.
Muitos colegas choravam.
O assédio moral era “normal”.
A empresa oferecia uma marmita com pouco arroz e colher de chá de carne moída para quem fazia hora-extra – 11 horas de trabalho.
Quando arranquei o dente siso, o atestado não serviu por ser “particular”.
Toda manhã, antes de sair ao trabalho, vomitava.
Advertências eram distribuídas para forçar a demissão por justa causa.
Tudo isso
acompanhado da grosseria do ignorante
que desconhece a realidade de um trabalhador.
Coluna nadacult, 2 de Março de 2016, jornal Folha da Manhã, Folha Dois, página 2.

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